Esta é a minha terra, outra mais linda não há!
Enquanto vos falo, vou simultãneamente mostrando imagens, que todos os riachenses conheçem...
Falar da nossa terra, da terra dos nossos afectos, é sempre um exercício
que, quer queiramos quer não, nos faz percorrer, através da memória, a
nossa existência desde a infância. Então, percebemos que aquele mundo
pequeno, a nossa rua, afinal faz parte de outras ruas, de outros mundos.
E hoje, ao recordar a primeira memória que temos da infância,
percebemos que aquele mundo tão pequeno, afinal, é muito grande.
Tão grande meu Deus!!
"Chico Zé, vai lá acima à loja comprar um litro de petróleo, que esta
garrafa já está quase no fim…” pedia a minha falecida mãe.
E quando ia para a escola? Nem sei o que vos diga!!
Que emoção, ter de subir a rua do Campo, passava ao lado da casa do
meu tio Jorge, lá mais acima virava à direita pela rua de São João,
depois, no largo onde eram feitas as Festas de São João, percorrendo
esta rua até ao fim, virava à esquerda pela Rua Doutor Guimarães de
Oliveira, um pouco mais acima, junto ao cruzamento com a Av. 16 de
Maio, ali ficava a minha escola primária, que saudades tenho do meu
professor Mário…
Tenho tantas saudades dele!! É o professor de quem mais saudades tenho;
pela sua competência, pelo seu porte austero/bonacheirão, o seu sorriso,
mas sobretudo pela sua forma de ser…
Lembro-me de, nos dias de tempestade… ele se colocar em frente das
grandes vidraças, das enormes janelas da escola e olhando através delas,
fitava a chuva intensa que caía… e analisando os céus, carregados de
escuro… por entre trovões e relampagos,dizia com gravidade carregada na voz:
“Bolas, Bolinhas, Boletas”
Sempre achei que estas três palavras, ditas daquela maneira, naquele
contexto, nada tinham a ver com o ambiente de tempestade.
Quem sabe, cogito eu, se ele próprio não as ouviu, pela voz de seu pai ou
avô, em dias de tempestade…
Como me lembro daquele fato, ás riscas, sempre impecável, que vestia.
Ainda hoje, não consigo sequer descrever por palavras os tons exactos do
dito fato, mas acreditem que tenho tudo presente na minha mente… só
que não consigo descrever.
Este mosaico acima, encontra-se ainda hoje nas ruínas romanas, diz exactamente:
“Cardlio e Avita viveram felizes nesta torre”
Cardilio era um general romano, e, ao que parece, ele e a esposa Avita
foram muito felizes nesta sua casa, datada do séc. IV, próximo de
Torres Nonas 3Klm e Riachos 3 Klm, e com o rio Almonda bastante
próximo. Deixaram o seu retrato e a revelação da sua felicidade
transcrita nos mosaicos... para o resto dos tempos, que só muitos
séculos depois, foram descobertos.
Certa é a referência aos proprietários da villa que fica próximo da via
romana que ligava Olisipo a Brácara Augusta (Actual Braga). Seria uma
vila agrícola. Um ambiente que se mantém até aos dias de hoje e onde a
fila de oliveiras que cerca o espaço arqueológico dá um enquadramento
natural muito bonito.
Dava uma semana da minha vida para regressar a umas quantas horas
desses tempos em que chovia durante semanas seguidas, onde aconteciam
as cheias do rio Almonda…
Como as recordações me fazem divagar!
Mas, regressando ao professor Mário, dele somente sei, que naquela
escola leccionou durante mais de trinta anos até se aposentar… era
natural da Ribeira Branca e lá faleceu, presumo que lá estará sepultado…
não quero terminar os meus dias sem ir ter com ele à sua uma última
morada e ter com ele uma última conversa, de menino para homem… para
lhe dizer, o quanto ele ajudou a moldar o homem em que me tornei… agora
que já são passados agora mais de 50 anos depois dá sua morte.
Mas que grande homem tive na minha presença e na altura nem disso me
dei conta!!
Lembro-me da papelaria, junto da escola, lá na descida do campo da bola,
de comprar, por 10 tostões, cadernos novinhos em folha.
Depois, veio o secundário, mais propriamente a telescola e os horizontes
alargaram-se mais, mas pouco, uma vez que a telescola ficava a não mais
do que 200 metros da dita escola primária...
contudo, a memória dos cheiros, das pessoas e das brincadeiras na rua,
era, foi e será sempre,imensa, ficou para sempre entranhada na minha
pele e lembrança, cada hora desses dias... os buracos, nas estradas de
terra batida, que,formavam grandes piscinas, para contentamento da
miudagem, depois nos dias mais frios a geada da manhã, "vitrificava
tudo", criando os depósitos de gelo, era o inverno, puro e duro...
Que saudades desse tempo!
Nenhum dos outros mundos, por muito belos e grandes que sejam, se
comparam à nossa rua ou à comunidade das nossas relações. Nascem
assim, as “Memórias do coração”… e são estas que prevalecerão para
sempre, são estas “Memórias do Coração” que ficarão agarradas às
pedras da calçada; às bermas das estradas, às paredes das pobres
habitações; aos rostos envelhecidos das pessoas; aos cheiros peculiares
que saíam, e continuam a sair, ainda hoje, de cada uma das casas da
minha terra…
Lembro-me do barulho da roupa a secar no estendal de minha mãe quando
batida pelo vento, do cheiro do sabão azul e branco que ainda hoje, paira
no ar lá no estendal...
Quando se fala da minha terra, a "Memória do Coração” elimina as coisas
más e amplifica as boas...
Depois quando se parte, quase de imediato o desejo de regressar.
“Esta é a minha terra, outra mais linda não há”.
Percebo agora claramente que, de facto, com ser humano, necessito de
pertencer a um sítio, chamá-lo de meu. Essa coisa de ser cidadão do
mundo, pelo menos para a maioria das pessoas, é apenas um refúgio para
justificar que não se conseguiu estabelecer relações de tal forma
duradouras, que não se teve força ou vontade para o fazer, como
aconteceu na nossa terra.
Quando regressamos de novo, ressurge com intensidade renovada, o amor
pela nossa terra, que é o mesmo que dizer, da ausência de não pertencer
a lugar nenhum. Com certeza que já todos ouvimos e até já dissemos:
“Vou à terra” ou “Vou regressar à minha terra”.
Não, não é provincianismo, é a necessidade de fazermos parte de um todo
significativo que valorizamos, que nos valoriza e que temos orgulho em ter
ajudado a construir. Por isso, o nosso primeiro impulso é achar a nossa t
erra, a mais linda do mundo, os defeitos são minimizados pela vontade de
ajudarmos a que se transformem em virtudes; há lugares de afetos que
são amores para toda a vida... quem não tem saudades de estar perto do
rio Almonda? das pescarias?
"Ir á terra" significa ir... ao abraço, o abraço, que simboliza aquilo que o
coração quer que permaneça ainda mais belo do que aquilo que a própria
memória registou, é reforçar com afeição esse sentimento maior de
pertencer a um lugar, à nossa terra...
Hoje, mais do que nunca, com o mundo globalizado e com os valores a t
ransformarem-se em coisa nenhuma, mais significado tem o regressar
ao nosso lugar de paz, à nossa vivência feliz… afinal este é um lugar de
afectos… porque esta, é a nossa terra, e outra mais linda não há.
Francisco José Ferreira da Luz
Este texto contém elementos de um
trabalho original de Jorge da Cunha
intitulado:
“Esta è a minha terra, outra mais linda não hà”
COISAS DE RIACHOS
Símbologia
A cruz maçanetada - Evoca o padroeiro da freguesia, que é Santo António.
de grande tradição na freguesia.
Os ramos de oliveira - Simbolizam a tradição agricola.
A aspa de coticas ondadas - Representam o rio Almonda que, a oeste, separa a freguesia das suas vizinhas. |
Bandeira para hastear em edifícios Estandarte para cerimónias e cortejos
Coordenadas |
Riachos é uma vila ribatejana de Portugal, pertencente ao município de
Torres Novas, com 14,56 km² de área e 5 247 habitantes (2011)[1]. É a
mais populosa vila do concelho. A sua densidade populacional é de 360,4
hab/km². Fundada em 23 de Agosto de 1923, de parte da freguesia de
Santiago do concelho de Torres Novas, Riachos está a uma distância de 5
km da sede do concelho.
É uma povoação que, apesar dos seus primeiros registos serem recentes,
carrega, na boca do povo, histórias da gente da lezíria ribatejana.
Foi elevada a vila a 16 de Maio de 1986, mas o mais provável é ser ainda
mais antiga; segundo consta, existem famílias cujos registos datam dos
anos entre 1600/1650.
É nela que se localiza a estação de Riachos/Torres Novas/Golegã, servida
pelos comboios CP Regional (CP 2240). Encontra-se também relativamente
próxima da estação ferroviária do Entroncamento.
Localiza-se na vila a Escola E.B. 2,3 Dr. António Chora Barroso, assim
como o Centro Escolar e J.I. dos Riachos. Ambas as escolas pertencem
ao agrupamento de escolas Artur Gonçalves anteriormente integrantes do
Agrupamento Humberto Delgado (personagem icónica na luta contra a
ditadura portuguesa, natural do Boquilobo, aldeia riachense)
Contudo, apesar da sua pequena dimensão geográfica, carrega consigo
tradições, histórias e cultura que são preservadas pelos seus habitantes
de gerações em gerações.
População da freguesia de Riachos [2] | ||||||||||||||
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1864 | 1878 | 1890 | 1900 | 1911 | 1920 | 1930 | 1940 | 1950 | 1960 | 1970 | 1981 | 1991 | 2001 | 2011 |
2 980 | 3 600 | 3 877 | 4 167 | 4 707 | 5 070 | 5 298 | 5 420 | 5 247 |
Criada pela lei nº 1.470, de 28/08/1923, com lugares da freguesia de Santiago
Distribuição da População por Grupos Etários | |||||||||
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Ano | 0-14 Anos | 15-24 Anos | 25-64 Anos | > 65 Anos | 0-14 Anos | 15-24 Anos | 25-64 Anos | > 65 Anos | |
2001 | 726 | 740 | 2 894 | 1 060 | 13,4% | 13,7% | 53,4% | 19,6% | |
2011 | 750 | 470 | 2835 | 1192 | 14,3% | 9,0% | 54,0% | 22,7% |
Média do País no censo de 2001: 0/14 Anos-16,0%; 15/24 Anos-14,3%; 25/64 Anos-53,4%; 65 e mais Anos-16,4%
Média do País no censo de 2011: 0/14 Anos-14,9%; 15/24 Anos-10,9%; 25/64 Anos-55,2%; 65 e mais Anos-19,0%
Igreja Paroquial de Riachos